segunda-feira, 31 de maio de 2010

MEDIAÇÕES NAS BRINCADEIRAS LIVRES

Em toda a minha trajetória profissional na área da educação, sempre privilegiei momentos de brincadeiras livres nos planejamentos, tanto para a 3ªa série em que realizei o meu estágio do curso de Magistério, quanto para a Educação Infantil numa creche/escola particular que atendi enquanto aguardava a realização de um concurso público na cidade. Nos dois anos em que lecionei para uma 2ª série na rede municipal, também continuei valorizando o brincar como uma forma privilegiada de aprendizagem. Nos últimos 8 anos, atuando exclusivamente numa EMEI com crinças de 1 a 5 anos, tenho plena convicção de que o brincar é uma atividade muito produtiva que deve ser valorizada e ressignificada constantemente pelo educador que, ao observar o modo como as crianças brincam, pode perceber os usos e a forma de organizar os brinquedos, relacionando-os com seus contextos de vida e visões de mundo. E através disso, elaborar planejamentos de acordo com as necessidades e os interesses dos alunos, o que inclui brincadeiras livres e dirigidas.

E nessa investigação sobre produção de sentido entre professoras e crianças, identificar o que de mais significativo existe na vida de cada um, em cada momento da vida desses pares educativos: crianças e crianças, crianças e professora, crianças e mundo. (Junqueira, 2007, p. 12).


Ao reconhecer esse meu papel social e a importância de mediações sistemáticas, de projetos e princípios claros e intencionais, me sinto não apenas obrigada, mas impelida com grande entusiasmo na tarefa de pesquisar e aprofundar meus conhecimentos sobre as ações que envolvem o ato de brincar, especialmente as...

... MEDIAÇÕES DO ADULTO!

Mediações estas que sempre compreendi muito além de vigiar as crianças e zelar pela sua integridade física. Segundo minha mãe e outros parentes próximos sem formação escolar na área, "as crianças precisam ser ensinadas a brincar." Ou seja, precisam ser estimuladas através de exemplos criativos e dinâmicos, que suscitem novas interações com os mesmos objetos - por que não?

Depois de ler trechos do documento abaixo referido, comecei a organizar melhor minhas ideias a respeito e confirmei o que os familiares aprenderam com sua experiência de vida: devo estar atenta para o brinquedo como objeto especial, pleno de significados; para sua apropriação pelas crianças; para minhas falas e reações; para as brincadeiras que surgem; para a arrumação e a organização do espaço e para mim mesma.

Pretendo continuar as leituras e reflexões sobre essa grande fonte de desenvolvimento considerada por Vygotsky (1991), como foco de uma lente de aumento, que contém todas as tendências do desenvolvimento de forma condensada. Para o autor, a brincadeira fornece ampla estrutura básica para mudanças das necessidades e da consciência. Pois, nas brincadeiras, as crianças ressignificam o que vivem e sentem.

E assim, qualificar ainda mais minha prática, na compreensão mais aprofundada do que está em jogo quando a criança brinca, analisando o suporte material ou imaterial que desencadeia esse brincar, o ambiente, os momentos a ele destinados e as pessoas que dele participam... (por que tenho participardo cada vez menos desses momentos maravilhosos?)Tempo, espaço, companhia e material para brincar os meus alunos têm! Que bom: quanto mais eles veem, ouvem ou experimentam, mais conseguem aprender e assimilar; quanto mais elementos reais disponíveis em suas experiências, mais considerável e produtiva a atividade de sua imaginação.


REFERÊNCIAS:

SALTO para o Futuro. JOGOS E BRINCADEIRAS: DESAFIOS E DESCOBERTAS. Ministério da Educação, Secretaria de Educação a Distância. Ano XVIII, boletim 07 - Maio de 2008.
Disponível em:
http://www.tvbrasil.org.br/fotos/salto/series/165801Jogos.pdf
Acesso em: 31. mai. 2010.

VYGOTSKY, L. S. Formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 4a edição,
1991.

domingo, 23 de maio de 2010

A flexibilidade do planejamento pedagógico e suas implicações




Antes de iniciar a prática propriamente dita, elaborei, com certo esforço, o cronograma geral do período de estágio, dentro do Projeto de Estágio, antecipando as temáticas e os conteúdos abordados durante as nove semanas de trabalho. Nesse momento, eu já sabia que uma colega de trabalho realizaria um estágio de 40 horas na minha turma, ocupando suas tardes durante duas semanas com atividades interessantes, diversificadas, mas gerando uma rotina diferente - embora os alunos a conhecessem bem - e, às vezes, um pouco cansativa.
Por esse motivo, prevendo e depois confirmando a excessiva agitação dos alunos, oportunizei, nas manhãs em que realizava minha prática de estágio, atividades mais leves, recreativas e, de certa forma, "atrasei" o meu cronograma inicial. Como este planejamento tinha um caráter provisório, flexível mesmo - como acredito que deve ter - não me preocupei em cumprir prazos e realizar atividades apenas porque estavam marcadas para ocorrerem em determinada semana. Contudo, sabendo da importância dos objetivos de aprendizagem traçados, precisava criar alternativas viáveis para alcançá-los sem "estressar" mais ainda a alunos e professores envolvidos com a turma.
Perrenoud discorre sobre uma pedagogia diferenciada que relacionei, sob certos aspectos, com as adaptações de meu planejamento semanal:
"O importante, em uma pedagogia diferenciada, é criar dispositivos múltiplos, não baseando tudo na intervenção do professor.
...
Organizar o espaço em oficinas ou em "cantos" - entre os quais os alunos circulam - é uma outra maneira de enfrentar as diferenças. Nenhuma delas é, sozinha, uma solução mágica."
E assim, intercalando atividades recreativas e de produção formal de conhecimento, entre pequenos grupos de atuação, percebi que as dinâmicas empreendidas na sala de aula passaram a apresentar novos contornos - mais suaves - melhorando consideravelmente o ambiente em si.
É claro que estas minhas considerações sobre o tema carecem de um aprofundamento teórico consistente e, embora instigante, não pretendo, por ora, investir um tempo maior com estudos a esse respeito. Caso contrário, nem sei se disporia - hoje - das qualidades citadas pelo sociólogo suíço como necessárias para implementar uma diferenciação metodológica realmente inovadora.
"A diferenciação exige métodos complementares e, portanto, uma forma de inventividade didática e organizacional, baseada em um pensamento arquitetônico e sistêmico."
E se já tive essas qualidades, como aluna, e não mais as tenho agora, como educadora, em que parte do percurso as teria perdido? Ou estarão elas apenas adormecidas, necessitando de uma boa dose de estudo motivado pelo desejo de atender melhor a meus alunos? Quem sabe, ainda acabarei me orgulhando de algo novo surgido (também) a partir das reflexões suscitadas pela prática do estágio curricular, tão trabalhoso, mas, afinal, tão frutífero!
Referências:
PERRENOUD, Philippe. Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.




segunda-feira, 17 de maio de 2010

Dias atípicos exigem posturas mais inovadoras ainda



Mais alguns daqueles dias em que é impossível sair para caminhar com a turma, brincar na pracinha ou até mesmo utilizar o pátio coberto, devido ao frio, umidade ou chuva.

Assim, em vez de irmos até a pracinha do campo - interagir com as demais turmas do prédio em outro espaço e observar alguns aspectos das casas pelo caminho - optei por uma modalidade de brincadeira livre que meus alunos simplesmente adoram: a criação de "cantinhos" temporários com temas relacionados às realidades do mundo infantil ou adulto.

Com menos frequência do que gostaria e deveria, participo dessas incursões pelo mundo da fantasia infantil, ocupando um lugar de honra na mesinha de chá, no salão de beleza, na fazenda de animais ou na escrivaninha da secretária. Segundo meus alunos, "pareço uma criança!" Nesses momentos, acredito que o diferencial que encanta as crianças e fortalece os vínculos afetivos entre o adulto mediador e aqueles que, em geral, desempenham um papel de submissão no ambiente escolar é o meu comportamento sério, minhas falas compenetradas e a importância que dou aos rituais realizados... E eles até riem de mim, dizendo que é só de mentirinha, e a profe não sabia... É claro que, no fundo, eles sabem que tudo não passa de um jogo, ou não?

Essa forma de abordagem dramática na educação se mantém como uma expressão contemporânea do teatro na escola, voltado para a subjetividade, visto que pressupõe as relações de cada indivíduo com seu imaginário e com sua expressividade. Este faz-de-conta infantil, uma prática lúdica individual ou em grupo, propõe a improvisação de um tema ou situação previamente escolhida, geralmente por eles. Não implica a participação de uma platéia, o que confere, a meu ver, uma espontaneidade e um prazer muito maiores a esses jogos. Não os utilizo com o objetivo de apresentação ou representação de algo, nem de apropriação dos mecanismos fundamentais do teatro, mas pela alegria, bem-estar e desenvolvimento afetivo, cognitivo e social que proporcionam a meus alunos e -por que não? - a mim também.

REFERÊNCIAS:

FUCHS, Ana Carolina Müller. Formas de abordagem dramática na educação. PEAD, 2007. Acesso em: 17. mai. 2010.



sábado, 8 de maio de 2010

QUANDO MENOS É MAIS!

Para mim, o encerramento de uma temática em estudo é, quase sempre, motivo de angústia.
Primeiro, porque novas ideias de atividades vão surgindo durante o desenvolvimento daquilo que planejei, inclusive por sugestões de colegas, alunos e equipe de apoio.
Segundo, porque nem tudo o que planejei foi aplicado, por diversos motivos: os alunos não demonstraram o interesse esperado; algumas atividades mostraram-se, afinal, simples ou complexas demais...
E, por fim, não obtivemos (todas) as respostas pretendidas!
Mesmo tendo consciência de que todas as particularidades mencionadas integram a realidade escolar e são perfeitamente aceitáveis, dentro de certos limites, tenho a impressão de que encerro algo imperfeito, quando gostaria de avançar para uma próxima etapa com todos os objetivos anteriores alcançados. Esta mania de perfeição, este ímpeto de atingir o inatingível já me trouxe muito sofrimentos... Agora, mais consciente acerca das limitações alheias - e das minhas - tento transformar as lacunas em oportunidades de aprendizagem e aprimoramento.
Na prática profissional, por exemplo, quando percebo a inadequação de uma atividade prevista, modifico-a, na medida do possível, ou adio a sua realização. E não considero essa estratégia como algo negativo ou menor, como parece sugerir o arquiteto, político e ativista social brasileiro Francisco Whitaker Ferreira em sua obra Planejamento sim e não:

"Uma ação planejada é uma ação não improvisada; uma ação improvisada é uma ação
não planejada." (Ferreira, 1985, p.15)
Percebo que o improviso tem um papel fundamentalmente positivo no meu ambiente de trabalho, ainda mais nestes dias chuvosos em que a pracinha - inundada - pode ser admirada apenas através das vidraças da sala de aula. Os amplos movimentos ao ar livre são, então, substituídos por brincadeiras como “vivo- morto”, as quais não suprem totalmente a falta dos brinquedos da praça, mas também promovem alegria, entretenimento saudável e movimento.
E assim, através das reformulações do planejamento pedagógico, conforme as necessidades do meio ou do grupo, torna-se evidente a flexibilidade que caracteriza esse meu instrumento de trabalho.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

É fim do mês...











... e finalizo com relativa satisfação a terceira semana de estágio.

Relativa, porque algumas situações desencadeadas a partir das (interessantíssimas) atividades (muito bem) desenvolvidas me fizeram refletir - e muito - sobre a minha postura diante de impasses como estes, descritos na Reflexão Semanal Três:


"Ao organizarmos uma das apresentações da “nossa peça”, por exemplo, um aluno vestiu a camiseta vermelha que usávamos para representar o Rio Vermelho, sendo alvo de críticas imediatas por parte de alguns colegas, que não aceitaram a substituição desse objeto por outro similar. Outro “problema” foi o atraso da aluna que sempre interpretava a Tinoca Minhoca, como se outra pessoa não pudesse representar esse papel... Enquanto alguns alunos demonstraram apego exagerado às regras estabelecidas, outros aceitaram pacificamente minhas sugestões para modificar as combinações feitas."


Mesmo sabendo da minha irremediável condição de ser humano imperfeito, pessoal e profissionalmente, foi decepcionante constatar, a partir das reflexões suscitadas pelas leituras sobre os estádios de consciência infantil das regras, que o modo como "resolvo" certas situações da sala de aula possuem realmente um caráter autoritário, ditatorial até. Divergências sobre a posse de brinquedos, disputas de lugares na fila, no refeitório ou na rodinha e discussões sobre os mais variados assuntos exigem minha intervenção direta e imediata. Mesmo tentando ser democrática, me inteirando sobre a totalidade dos fatos e questionando os próprios alunos sobre a melhor solução, às vezes simplesmente indico o caminho a seguir. Aí, ao ser contestada pela criança, revejo minha postura - quando julgo possível e recomendável - e reassumo meu papel de adulto mediador, e não controlador ou "mandador".


"Segundo Piaget, até aos 4 ou 5 anos, as regras não seriam compreendidas; dos 4/5 aos 9/10 anos, as regras teriam origem numa autoridade superior (adultos, Deus, políticos...) e não poderiam ser alteradas; dos 9/10 anos em diante as regras seriam estabelecidas por mútuo acordo dos jogadores e, por isso, poderiam ser mudadas caso todos os jogadores concordassem."


Pois bem, talvez seja muito pretensioso de minha parte determinar se as crianças que concordaram com as alterações nas regras pré-estabelecidas já realizam incursões por esse terceiro estádio... Estou mais propensa a acreditar que elas apenas aceitaram a nova regra “ditada pela autoridade superior”, no caso, a professora. Segundo eles, é ela quem manda na sala, frase repetida com veemência sempre que um aluno repreende ou orienta outro de forma mais severa...


Certamente, ao estudar mais sobre o assunto e observar atentamente esses aspectos na minha turma, comprovarei – ou não – o que Piaget concluiu: crianças diferentes adquirem versões diferentes das regras e, ao jogarem juntas, essas diferenças tornam-se evidentes e precisam ser resolvidas. E mesmo que eu não chegue a conclusão alguma, o fato de estudar e refletir sobre a questão provocará novas assimilações e desacomodações, na maneira como penso e faço educação, e estas, acredito, são sempre bem vindas.